Dos Milhos, do Frango e da Boa Mesa: Um Banquete na Galeria do Mercado

Dos Milhos, do Frango e da Boa Mesa: 

Um Banquete na Galeria do Mercado

Ó nobres gentes de apetite curioso e alma viajante, hoje vos trago notícias de um refúgio escondido no coração da Praça do Mercado, onde o tempo se dobra sobre si mesmo e as tradições encontram o seu altar. Falo-vos da Galeria do Mercado, um recanto onde a mesa se põe com esmero e onde os sabores de antanho se servem com a solenidade que merecem.

Foi numa quinta-feira que, agraciada por gentil convite, me vi sentada àquela mesa que, semana após semana, se enfeita de memórias e bom-gosto. Mas não se pense que aqui tudo é acaso! O ritual principia sempre na véspera, quando se ausculta o grupo e se anuncia a ementa, despertando desejos e recordações.

Nesta jornada de sabores, os milhos com frango e grelos foram os senhores do festim. Mas antes deles, como manda a ordem natural das boas coisas, vieram os petiscos que sempre encimam a mesa: a bola sovada, de crosta dourada e miolo tenro, o queijo curado, que fala da terra onde nasceu, as alcaparras, pequeninas e atrevidas, o salpicão, com o seu perfume inconfundível, e hoje, por capricho da estação, as merujas, frescas e viçosas.

Mas voltemos aos milhos, pois deles se fez longa conversa. Contou-se como outrora a moagem os deixava mais grossos, enquanto hoje chegam à panela mais finos – faz diferença? Faz. Mas eis o que mais importa: o tempero. Que há quem os lave antes de os cozinhar, e quem o negue com veemência. Eu cá não lavo, mas a minha mãe lavava…

O segredo deste repasto começa no lume brando, onde uma cebola e dentes de alho dançam no azeite até ficarem dourados. Junta-se então uma linguiça que solta os seus aromas, o frango que há de ficar tenro, o tomate que dá corpo ao caldo e as ervas que fazem magia. E quando o frango já se desfaz ao toque, entram os milhos, e que ninguém se atreva a largar a colher! Mexe-se sem descanso, para que não engrolem, para que fiquem suaves como se quer. Dez minutos bastam, e então chegam os grelos, já cozidos, que trazem frescura e cor ao prato.

E agora, senhores, que cesse a palavra e que fale o paladar, pois eis chegada a hora de degustar. Que se erga a colher e se faça jus ao que nos foi servido, pois é nestes momentos que se guardam as melhores memórias e se prova a verdadeira arte de bem viver.

E tudo que por aqui se faz ... é Bem Bô!